Análise do discurso de Michel Temer na 72a. AGNU
- Denise Lícia
- 19 de set. de 2017
- 2 min de leitura

20 de setembro de 2017, o presidente Temer abre os debates da Assembleia-Geral das Nações Unidas novamente. Tradicionalmente, o Brasil é o país que inaugura os discursos todos os anos, e o discurso do presidente dá o tom da proposta de política externa nacional. Exatamente por isso, não foi muito diferente das últimas participações brasileiras, mesmo ao dar o tom pessoal de seu governo em sua fala.
Na 72ª reunião da Assembleia Geral da ONU, o presidente tratou de temas caros ao Sistema Internacional. Com um tom bastante diplomático e muito pouco pragmático, condenou e elogiou atuações dos seus pares. A exortação do papel da ONU enquanto mensageira da esperança, promotora da igualdade, do desenvolvimento e do bem-estar dos povos, em contraste com o crescente desprestígio que a intergovernamentalidade e a multilateralidade têm enfrentado nessa década, especialmente com o fortalecimento dos nacionalismos, que o próprio presidente condena no discurso.
O tema da reforma do Conselho de Segurança volta ao discurso da política externa brasileira depois de alguns anos suplantada por outros temas.
Continua forte o tema do desenvolvimento, mesmo se ainda temos um conflito entre o que é desenvolvimento e as metas do acordo de Paris, cujo cumprimento foi proclamado com ênfase pelo presidente como um objetivo nacional. Meio ambiente, no Brasil, ao contrário do que apresenta o senhor presidente, ainda é um tema a ser muito debatido, pois está longe de ser uma boa prática no Brasil.
A questão do meio ambiente demonstra bem o caráter diplomático do discurso. O Brasil apresenta-se como a vanguarda da proteção ambiental, no entanto, a suspensão (sim, suspensão, o que significa que pode voltar à cena) do acordo que cede parte do território da Amazônia a mineradoras, contradiz a declaração de que "O desmatamento é questão que nos preocupa, especialmente na Amazônia. Nessa questão temos concentrado atenção e recursos. Pois trago a boa notícia de que os primeiros dados disponíveis para o último ano já indicam diminuição de mais de 20% do desmatamento naquela região”.
O discurso de Temer conteve, ainda, sinais de que o presidente quiz agradar o cenário internacional: informações sobre a economia e as reformas, propostas nacionais para livre comércio, críticas tanto à política nuclear norte-coreana quanto à resposta norte-americana, a exortação à solução de dois Estados entre Israel e Palestina e o incentivo ao diálogo, especialmente no que tange a questão dos refugiados. Pontos que são, desde cedo, pilares de nossa política externa: Não intervenção, integração regional, repúdio ao terrorismo e ao racismo.
No entanto, chama a atenção a ênfase nas questões econômicas e reformas. Apesar de enfrentar, internamente, acusações envolvendo escândalos de corrupção, insiste em anunciar que o Brasil está nos trilhos. Não sendo amarrado aos trilhos de um trem sem freios, já é uma boa notícia.
Dessa declaração frente à Assembleia Geral da ONU, o envolvimento internacional do Brasil, a aproximação do país de um projeto de liderança regional ou assumir seu papel de peso no Sistema, ficamos apenas na expectativa. Novamente.
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