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Brexit dois anos depois

As redes sociais têm incorporado um papel muito importante no direcionamento das políticas domésticas de um grande número de países. No Brasil, desde 2013 é possível observar uma politização das redes e das postagens, que levaram a um grande número de manifestações em todo país. Antes disso, a Primavera Árabe, que culminou com a queda de diversos ditadores dos países do Norte da África, foi alimentada por redes sociais. Atualmente, essas redes conseguiram até mesmo enfraquecer o papel dos institutos de pesquisa, pois a velocidade do compartilhamento das informações, que é algo que ainda precisa ser melhor avaliado e entendido, possibilita a mudança de opiniões de maneira mais rápida do que as tradicionais técnicas estatísticas conseguem captar e processar. Não é um erro da estatística, mas uma questão entre o tempo da análise das informações coletadas e a velocidade de propagação da argumentação.

O grande choque entre os resultados de pesquisa estatísticos e a realidade deu-se com o plebiscito que questionou a permanência do Reino Unido da União Europeia. Dentro de avaliações tradicionais, previa-se uma decisão bastante polarizada, mas com prevalência da continuidade do status quo. Não foi esse o resultado final. A decisão foi polarizada, mas a maioria dos votantes optou pela saída. Foi o início da crise dos institutos de pesquisa, mais uma vítima da velocidade da informação no século XXI. Entre outras vítimas, temos a própria decisão, de junho de 2016, que ficou conhecida como BrExit (Britain + Exit), que ainda demanda longas rodadas de negociação para que os termos do desligamento sejam definidos. Nas semanas posteriores ao referendo, os termos mais buscados no Google eram sobre a União Europeia, sobre as consequências da saída e sobre as vantagens e desvantagens de participar do bloco europeu. Em uma análise rápida, pareceu que os britânicos não sabiam muito bem sobre o que estavam votando naquele momento. As consequências disso se estendem até hoje, com a Primeira Ministra Theresa May tentando chegar a um termo de mútuo benefício com as instituições europeias.

Manifestações contrárias ao BrExit se fortaleceram à medida que as negociações da saída ia se tornando cada vez mais onerosas ao Reino Unido. A população mais jovem tem construído uma oposição ao BrExit com a justificativa de que seu futuro foi definido pelo voto de uma maioria mais velha que não sofrerá as consequências num futuro de médio prazo. Isso fortaleceu as propostas dos trabalhistas por um novo referendo enquanto May continua sem conseguir fechar algum acordo que permita o desligamento de uma maneira menos prejudicial aos interesses de seu país. Importante salientar que tanto no pré-referendo quanto nos protestos atuais pedindo uma nova votação, as redes sociais têm exercido um papel bastante ativo no compartilhamento de informações, muitas delas inverídicas, com o objetivo de não apenas convencer novos apoiadores à uma causa, mas ampliar a rejeição destes ao outro lado da disputa. Curiosamente, dois dos elementos utilizados são exatamente o grande número de “erros" dos institutos de pesquisa e o tempo que demora para uma notícia ser publicada num site de um veículo de comunicação. Os chamados erros dos institutos de pesquisa se devem ao tempo necessário para a análise dos dados coletados enquanto a demora na publicação de informações tem sua causa justamente no processo de checagem da sua veracidade. Os meios tradicionais de análise da política doméstica e externa ainda precisam aprender a lidar com as novas formas de compartilhamento de informações. Mas uma coisa deve-se sempre ser observada: se algo não está nos sites oficiais tem um sério risco de não ser verdadeiro.

Enquanto Theresa May e a União Europeia continuam a tentar negociar um desfecho ganha-ganha para as duas partes, novos países como a França, Itália, Estados Unidos e Brasil estão enfrentando as consequências que o Reino Unido e os países que viveram a Primavera Árabe já enfrentaram.

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